Sobre a arte de editar livros

Depois de muitos anos editando os mais diversos tipos de livros, me vi pensando nessa curiosa profissão e na mais curiosa ainda atividade de editor de livros de uma nanoeditora.

A nanoeditora, no caso, é a Radical Livros, criada há 20 anos e, na prática, inativa há quase uma década.

O que mudou nesse período? Melhor perguntar o que não ocorreu para que as publicações fossem rareando até pararmos de publicar há tanto tempo e as razões disso.

Em primeiro lugar, a ausência de um best-seller. Uma editora nanica só sai dessa condição se der muita sorte (ou tiver muito faro) e publicar, logo de saída, um livro que venda milhares de exemplares.

Além disso, descobrimos na prática que não se constroi uma editora com alguns poucos títulos. Não é assim no mundo dos livros. Sem um catálogo de algumas dezenas de títulos, após um ou dois anos de operação, simplesmente não se sai do lugar. E para ter esses vários títulos, nesse curto prazo de tempo, é preciso, nas contas de alguém com muita experiência nessa área, o editor Pedro Paulo de Sena Madureira, algo em torno de dois milhões de reais para começar a brincadeira de editar livros e construir um catálogo.

Obviamente, não era o caso.

Assim, embora o primeiro título da Radical, o livro A filosofia do punk, tenha esgotado sua tiragem inicial de 2.000 exemplares em tempo relativamente curto, alguns poucos meses, os títulos seguintes não foram tão bem sucedidos e as despesas contínuas de operação das atividades da editora acabaram por consumir nossa capacidade de continuar em operação.

Ao mesmo tempo, sem nos darmos conta, o mundo estava mudando. Quando começamos, no início do século XXI, o modelo principal de venda de livros ainda era o livro físico nas prateleiras das livrarias e a divulgação desses livros ocorria em canais tradicionais de mídia como revistas e jornais.

Por esse motivo, nossos esforços iniciais foram no sentido de tentar alcançar o maior número de pontos de venda para os títulos da editora. Aqui, a necessidade de um catálogo robusto, ou em vias de se tornar numeroso, mostrou sua cara novamente.

Uma livraria não vai dar atenção para uma nanoeditora se esta não tem, logo de saída, alguns títulos já publicados ou a perspectiva de publicação de um número razoável de títulos em um espaço de tempo relativamente curto. É muito trabalho (cadastrar a editora, ter alguém para atendê-la, fazer os pedidos, receber os livros, checar o estoque etc.) para pouco retorno (quem dá mais retorno, uma editora com 100 títulos no catálogo ou uma com 2?)

Nesses casos, um caminho possível é o de procurar uma distribuidora para ajudar a colocar os livros nas livrarias, mas aqui também, a mesma lógica se impõe e quando uma pequena editora é aceita em uma distribuidora, muitas vezes ela é só mais um nome aguardando que alguma livraria busque um título após ter visto alguma notícia ou comentário a seu respeito.

Aqui, entramos em mais uma das razões para o sucesso ou insucesso de uma editora iniciante: conseguir repercutir de alguma forma seus lançamentos. Inicialmente, como era a praxe daquele tempo, apostamos em divulgá-los nos meios de comunicação tradicionais.

Aqueles anos iniciais da primeira década do século, porém, estavam começando a dar seus primeiros passos em direção ao estado atual de como as pessoas consomem notícias, novidades e produtos em geral.

Hoje, é impensável uma empresa não promover seus produtos em plataformas digitais e redes sociais utilizando os mais diversos meios de interação eletrônica entre produtor e consumidor.

É nessa hora que o catálogo também mostra a sua cara: como manter um ritmo constante de publicações online, em redes sociais, sem ter o que mostrar?

De todo o exposto, fica claro que qualquer empreendimento editorial necessita seguir à risca o mantra do mundo acadêmico americano (também reproduzido aqui, com pompa e circunstância, como sói acontecer): publish or perish.

Este post inicial do blog da Radical Livros é uma primeira apresentação da retomada dos nossos trabalhos em 2024. Depois de tanto tempo sem lançarmos nada, vamos voltar à ativa trazendo aquele benfazejo título com o qual começamos e há tanto tempo se encontra esgotado.

Inicialmente, A filosofia do punk será lançado em formato e-book, até para que possamos inaugurar essa linha dentro da editora, formato ausente do mercado livreiro quando começamos a Radical duas décadas atrás.

Neste primeiro semestre de 2024, faremos também a reimpressão de uma tiragem bastante limitada do livro por razões meramente financeiras. De todo modo, será uma forma de recomeçarmos dentro das condições possíveis.

No segundo semestre, tentaremos lançar mais alguns títulos, alguns dos quais negociados há bastante tempo ou até mesmo prontos, aguardando apenas os recursos necessários para a impressão dos mesmos.

Por isso, se você chegou até aqui, pedimos que nos ajude a divulgar esse post, se inscreva nas redes sociais da editora (Facebook, Instagram e Twitter), visite o nosso site e se cadastre no mailing ali disponível para receber notícias das futuras publicações, além de ofertas e promoções dos nossos títulos. E, claro, navegue pelos títulos que lançamos e se algum for do seu interesse, compre o livro direto conosco em nosso site.

Prezamos demais o trabalho das livrarias e queremos voltar a estar presentes em um grande número delas, mas dado tudo o que foi colocado, precisamos, também, nos conectar aos que partilham dos mesmos interesses que os nossos por livros de ciências humanas de qualidade e importância para os tempos bicudos do presente.

Obrigado por sua companhia.

Georges Kormikiaris, editor da Radical Livros


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